domingo, novembro 04, 2007

A verdadeira Trilogia da minha vida






Trois Colour, de Krzysztof Kieślowski, é sem margem para dúvidas a Trilogia da minha vida.


Corria o ano de 2000, era a medusasss uma caloira de direito quando numa noite de serão familiar viu na RT2 Trois colour: rouge. Lembro-me que era uma noite chuvosa de inverno, o mundo parecia acabar do lado de fora dos janelões, e o fogo crepitava forte... e era tarde! Deixei-me ficar e assisti fascinada ao dealbar do meu sentido de Justiça.
Quem somos nós para julgar os outros? Quem somos nós para escolher o seu castigo, para determinar o seu caminho, para pensar, ensandecidos de poder, que temos a capacidade de ressocializar os outros, à força.
Rouge levantava questões importantíssimas para uma jovem impressionável de 18 anos: urgia repensar todo o nosso sistema judicial, todos os princípios jurídico penais. Era urgente mudar o mundo! Devaneios! Quem nunca sonhou?




Foi só um ano depois que consegui ver os outros dois filmes da trilogia. Trois Coulour: Bleu veio ao meu encontro de uma maneira tão fantástica como o primeiro me tinha seduzido numa noite fria e invernosa, numa improvável prateleira da Casa Municipal da Cultura de Coimbra. Se Rouge me atraiu pelas amplas possibilidades de um prisma já entrevisto mas nunca explorado, Bleu conquistou-me pela absoluta singeleza do belo, pela sensibilidade ditada por pequenos pormenores repletos de múltiplos significados. Sobretudo pela imensa capacidade criadora do Amor, aquela capacidade de amar desinteressadamente e sem limites.
Já revi este filme muitas vezes e o final para mim é sempre pungente, dá vontade de aprender grego para poder cantar com aquele coro, para poder participar, por uma vez que seja, na criação de algo tão magistral.



Trois Colour: Blanc não me chamou muito a atenção. Causou-me estranheza. Dos três é o mais louco, o mais imprevisível, o que tem como mote a igualdade, mas que estranhamente eu associo à paixão. Também gosto dele à minha maneira: é bom sermos surpreendidos e obrigados a aceitar que não temos todos de amar/pensar da mesma maneira.
Contudo, penso no Trois Colour: Blanc como aquele filme menos bom que todas as trilogias têm, para passar o testemunho a quem achar que pode fazer melhor.
E esta é a trilogia da minha vida. Bleu, Blanc e Rouge, as três cores da bandeira francesa, criada sob a égide dos princípios da Revolução: Liberté, Égalité et Fraternité.
(não tem nada a ver com o Matrix, pois não?!)

5 comentários:

Hydrargirum disse...

Onde e que eu andei que esses filmes me passaram ao lado?...Vou ja colmatar essa falha!

Adorei o teu texto!

:)

Leila* disse...

Já vi de onde vem a tua vocação!! :) Confesso que não vi nenhum desses filmes, mas parecem ter algo de muito inspirador!

Beijinhos

M disse...

Opah... que amáveis! :)

Anónimo disse...

Foi por mero acaso e muita sorte que vi um dos filmes da triologia: o Bleu.
Dá vontade de partilhar com ela as bolas de gelado de baunilha com o café vertido e uma conversa sem fim sobre o azul. Simplesmente simples...e tão magnífico!

M disse...

Sabes aquela parte absolutamente hilariante... de tão triste... Aquela velhinha (não velhota velhinha, mesmo) que vai largar a garrafa no vidrão e está longos segundos em bicos de pés para chegar ao buraco... aquilo mete-me medo, juro que me aterroriza!