Viver na Rua da Ilha não era aconselhável a cardíacos, e muito menos a pessoas nervosas que sofressem de ansiedade ou depressão nervosa: a velha acordava todas as manhãs às 8h00, punha as torneiras no máximo (quando uma de nós estava a tomar banho), e às 9h00 ouviamo-la a regressar para a cama, exalando suspiros de satisfação.
A gata velha e ninfomaníaca tinha o péssimo hábito de se tentar esgueirar para dentro dos nossos quartos, onde deixava lindos e bem cheirosos presentes em cima das colchas, sacos de viagem... já que a carpete era o último recurso de malvadez, quando não havia tempo suficiente para alcançar os outros locais.
Lembro-me, daquela deliciosa vez em que a velha perdeu as chaves. Ela que nunca perdia nada! Que, salvo o devido respeito que é muito, era a perfeição em pessoa, cuja letra infantil não era grosseira nem o seu português cheio de erros. Nós, vulgares mortais, é que não nos apercebiamos da genialidade em forma humana, que constamente se revelava sob a forma de GÉNIO DO MAL!
E pois que aquela casa era o seu último reduto, e o seu objectivo de vida era transformar a nossa vida num Inferno, à semelhança da existência dela, sem perder os tostões ao final do mês...
Contudo a vingança é um prato que se serve frio, e que se saboreia ainda melhor quando nos é colocado no caminho por circunstâncias para as quais não tivemos qualquer influência.
Quis a sorte que numa 5ºa feira da Reunião das Testemunhas de Jeová, onde a velha ia, e continua a ir, aprender mais umas técnicas de controlo mental, e aulas muito sábias de bem pensar, se atrasasse... e a última menina a chegar a casa (eu) visse a porta sem papeis, e toca a correr o fecho. A velha panicou tanto que por pouco me pareceu que ia ter um ataque cardíaco...
Confesso que fiquei genuinamente aflita, porque apesar de não ter noções nenhumas de primeiros socorros (homicídio por omissão), no máximo ligaria ao INEM, jamais dedo meu tocaria naquele relicário da maldade popular.
Pois, panicou mas aguentou-se firme, que a maldade dá-nos sempre razões válidas para continuarmos activos, e no dia seguinte já estava toda fina a tecer comentários depreciativos sobre C, que tinha desenhado cachorros de propósito no papel higiénico só para a chatear (Scotex... desenho de fábrica... impressão automática... duh!!!), e comentando em voz alta (nós eramos muito más, deixavamo-la a falar sozinha) que a tragédia de Entre-os-Rios tinha sido castigo de deus, que eles iam todos era com o tintol em garrafões, e que tinha sido muito bem feito.
E nós, quando tinhamos de olhar/passar por ela, adoptavamos postura erecta e rígida, puramente defensiva, não fosse dar-lhe um acesso de loucura e tentar bater-nos.
Há dias encontrei-a na baixa... eu estou mais velha, mas ela está na meeeeeeeesmaaaaaaaaaa!
7 comentários:
Há coisas (leia-se pessoas) que nunca mudam!!
Desafio lá na outra vacaria*
Belo desafio, sim senhor...
epah leila tiraste-me as palavras do teclado!*
As tuas histórias da tua vida devassa em Coimbra são muito mais interessantes medusasss!!! Para quando? Para quando?
A história está cada vez melhor. Estou à espera do livro!!!
Os anos passam e a senhora continua na mesma?! Ocorre-me o ditado popular :vaso ruim nao quebra!! E tu não estás mais velha....estás melhor:) lol
Enviar um comentário