terça-feira, novembro 06, 2007

O Louco


Hoje vi um louco. Tinha um olhar alucinado, de quem nada tem e nada teme... cheio de cólera, insane, gritava, berrava MALANDRO! POOORRA! VÊ O QUE ME FIZESTE! As pessoas passavam por ele e nem o olhavam, era como se fosse invisível. E quanto mais o ignoravam, mais ele berrava MULHERES PORTUGUESAS, NÃO HÁ NINGUÉM COMO EU!!! E gesticulava, esbracejava loucamente, ao ritmo íntimo do seu caos interior... lunático, não se lhe via uma centelha de razão... E a rua escurecia, a sombra crescia num entardecer cada vez mais frio e roubou-lhe o calor das afirmações desconexas. Deixei de o ouvir.

Mistura-se agora inconfundível no meio da turba que regressa a casa, de rosto cabisbaixo, a esconder os olhos ardentes de um fogo interior que não se apaga, de um sofrimento atroz de se sentir o dono do mundo e não ter nada.

3 comentários:

Hydrargirum disse...

E será que era mesmo louco, ou incompreendido?...

Fico tão triste, quando assisto a cenas destas!

PS- Mais um texto belissimamente escrito...e não precisas de agradecer! Tu sabes arquitectar palavras!

Anónimo disse...

Preocupa-me esta minha sensação de afinidade com os malucos que se assumem.
Escreveste-o bem.
(E a liberdade inerente a um gajo poder desabafar as suas amarguras aos berros pelas ruas? Que interessa quem presta atenção? Se calhar mesmo assim ainda se recebe mais do que a que nos dão em casa...)

M disse...

É muito complicado definir fronteiras no que ainda é a sanidade e naquilo que já é loucura. Confesso que também sinto empatia por aqueles que transpuseram esse limite, é já ali, está tão perto!