quinta-feira, novembro 01, 2007

the ghost of a dying kitty

Não corria uma aragem. O frio entranhava-se nos ossos, percorrendo calafrio a calafrio as minhas costas. Não corria uma aragem e não se ouvia um som. Nada crescia naquele lugar. Não era um nada absoluto, mas havia uma ausência de qualquer coisa mediatamente palpável, como se a ausência dessa coisa nos quisesse transmitir algo, que uma vez descoberto reverbaria em luz, calor e sabor.


Não sei...


Percorri calada aquele local, fechada sobre mim mesma, abraçada ao cachecol, confiando na macieza da lã para me confortar, aspirando o ténue cheiro do meu perfume, sentindo que um som era um insulto, respirar uma blasfémia.


Não sei quantas noites voltei ali, secundada por uma perigosa intuição do que me esperava, por uma controversa sensação de deja vu, por um querer violar o silência sepulcral, soltar um grito, e assim libertar a violência caótica de se estar vivo e são!


Hoje fui um pouco mais longe. Não fiquei a poucos passos da porta. Enchi-me de coragem e passei o hall de entrada e descobri a razão de revisitar este local todos os dias nos meus sonhos demenciais, que entrecortam as minhas noites de vigília.


Hoje sei que nunca mais sonharei: encontrei-me.


3 comentários:

Sra Esquizoide Frenica disse...

Tétrico. Isso faz-me lembrar tetris. Calculo que não tenha nada a ver uma coisa com a outra, porque divertia-me imenso a jogar Tetris e os teus posts dão-me arrepios na espinha.

Mokas disse...

Excelente Med... Excelente... Isto está tão bom que senti todas as texturas... os cheiros... o suor frio...
Muito bom mesmo...
...Isto dava para fazer um trabalho porreiro.

Mokas disse...

ah yah a foto está MUITO BOA...
e o trabalho de escultura tá porreiro.
Moribundo, tu conheces a "freak da argila"? ou isso não é do teu tempo...