sábado, outubro 13, 2007

À la Recherche

Como Proust saboreava a sua infância num chazinho crespuscal, entretecido por planos intercepcionistas iluminados pelas pessoas que de alguma forma o tinham marcado e pelos acontecimentos que o tinham moldado, sempre que entro num comboio, especialmente quando esse comboio me leva para um destino aprazível, envolve-me uma sensação de casa e é como se já lá estivesse. Fecho os olhos e lembro a primeira vez que viajei, e as vezes que se seguiram.
Por isso sou uma viajante irrascível. Não quero companheiros de viagem, não quero dignas senhoras idosas a desfiarem o rol das doenças do maridinho, nem peixeiras a zurzir a vida das noras. Não quero amáveis avós com os adoráveis netinhos, nem estrangeiros com todo o aspecto de quem vai gozar o sol e o calor emprestado pelo nosso país, e adora tudo aquilo que é "very typical".
Não, não quero. Não gosto de ouvir conversas alheias, nem aprender a vida toda de uma pessoa numa viagem de comboio. Não tenho curiosidade, pura e simplesmente não quero saber.
Por isso, quando me perguntam "está ocupado?", eu respondo que sim e continuo a sonhar pela janela fora, percorrendo as planícies do mondego nas costas de uma cegonha.
Qualquer dia habilito-me a ouvir: "Então menina! Estava ocupado?"; mas previdente já sei a resposta: "Afinal não apareceu...".

2 comentários:

durkheim disse...

Andar de comboio é alta/, mas já me apareceu de tudo um poucos, desde velhas chatas a pessoas a falar do tempo e de merda q nao interessa a ninguém.
tenho saudades de andar de comboio, tenho de ir fazer um interrail pela europa ehehehe Portugal - Itália - Alemanha - Holanda - Inglaterra - França (Paris apenas) e dp casinha! isso sim, ainda nao perdi a esperança e fica pro final do curso :D

Anónimo disse...

Já somos duas...