quarta-feira, junho 18, 2008

Piças de Cuscous

São Martinho apareceu montado num cavalo branco, o branco neutraliza as ruas de Bratislava e o sol brilha. Estou a descer Svoradova, passeio lentamente, bem esticadinho com o gorro enfiado até às orelhas, está frio e o reflexo do sol na neve incomoda-me os olhos, está tudo tão brilhante, estou enjoado. Estico a língua em busca dum floco de neve, é salgado…
Preciso de comprar tabaco, desci até ao mercado, entrei na tabacaria. Era sempre a mesma coisa, tinha de esforçar-me para soltar uns grunhidos em eslovaco, pedi:
- Jedna golden virgina, prosim… Filtri slim, papier vazka, dobre - Fui servido mas não obtive resposta, anda aqui um gajo a esforçar-se e só leva com caras carrancudas de comunistas frustradas. Ia-me esquecendo de comprar isqueiro… Oh que se foda não me lembro de como se diz. Bem, vou até ao pub rapinar uns fósforos e aproveito para tomar café:
- Dobredien, jedna male kava prosim, - já estou farto deste café que mais parece água de pincel…
- “Piccolo”?
- Sim, curto ”ano”. - Respondi.
Estou sentado no balcão, molho os lábios no café, é intragável mas pelo menos está quente, que bem que sabe aquecer a alma.
- Hey, estou esfomeado, sabes cozinhar cuscous? – Pergunta-me algo, era um passarinho com a estatura do Poupas, igualmente de aspecto estúpido e até efeminado. Mas sim, realmente parece esfomeado, deve ter voado desde Papua Nova Guiné até aqui, vou ajuda-lo.
- Sei pá, se quiseres vens comigo ao hostel que cozinho para ti, só tens de trazer cerveja. – Respondi.
- Hmmmmmcuuuscooous hmmm couss hummm!! – dito isto, o pássaro desata a correr em círculos e dispara porta fora a gritar por cucous.
O bicho, só pode estar parvo, deixo uns trocos no balcão e vou a correr atrás dele, ouço os seus gritos ao fundo, esforço-me por o alcançar … Sou atingido por uma bola de neve na cabeça, sinto-me amnésico e sem forças, tudo está turvo, sinto os meus joelhos a tocar o chão… Apaguei…


Quando acordo não sei onde estou, quer dizer até sei, estou numa sala de cimento pequena, quadrada e bolorenta, não tem janelas, apenas uma porta de metal. Ouço passos, a maçaneta roda e entram três gajos fardados:
- Então tu é que és o tipo das piças, ou serão pissas? – Pergunta-me o mais gordo.
- Desculpe? Sou português mas não sou das Caldas, estou na embaixada?
- Mas achas que sim? Ehehe, és muito estúpido! – Responde o mais alto.
- Oh minha besta, não vês que foste aprisionado pela guarda e especial e secreta e do Sócrates, os Sócretinos?! – Acrescenta o mais feio.
- Fonix, então o gajo até tem uma guarda secreta? – Pergunto.
- Está mas é caladinho senão ainda levas no focinho, provavelmente até vais levar de qualquer forma. Temos acusações graves contra ti, em primeiro lugar o nosso primeiro é benfiquista por isso não voltes a dizer que ele é sportinguista, Segundo, apesar de o nosso primeiro ter experimentado coisas menos dignas com o Taveira, enquanto estudava lá na Independente ou na Moderna (ou lá onde comprou o curso), já não quer mais experiências homossexuais… Bem, esquece isso, ele não é gay e em terceiro lugar, o nosso primeiro não gosta que se ceda a caprichos de mulher, e tu cedeste! – Disseram os três melodicamente em uníssono.
- Mas que querem com isso tudo… Eu, só…
- Caluda!! Deves estar surpreendido, pois é, é verdade, nós já fomos parte dos Tetvocal! Então é assim, xibas a gaja, ou será chibas a gaja? É isso, se chibares a gaja, a gente deixa-te ir, não te bate, não te dá choques eléctricos nem te bate com esta moca com dois pregos na ponta. Só tens de bufar o paradeiro da tua amiguinha, aquela que teve a brilhante ideia do post das pissas, ou serão piças? BEM, DESEMBUCHA! – Disse o mais feio, enquanto os outros dois cantarolavam uma melodia de elevador.
- OK! Podiam simplesmente ter perguntado, tiveram tanto trabalho a planear esta armadilha para nada… É assim, realmente a ideia foi dela, sugeriu-me para escrever sobre esse tema e eu inocentemente deixei-me levar.
- Foste um estúpido, para a próxima vais com ela para Santiago a pé, é? Parvo da merda! – Disse o mais feio.
- Oh… Não me sentia muito criativo nesse dia e a coisa não correu bem, ninguém gostou daquele post. Mas a culpa é toda dela, não tenho problemas nenhuns em a chibar a Med claro, a Medusasss, e vou já escrever a morada dela aqui num papelinho… Tome.
- Vá com Deus meu filho. – Disseram os três alternadamente.
- Por favor não a tratem muito mal, a ideia foi dela mas eu é que escrevi aquela coisa ordinária e sem jeito…
- Oh caga nisso, ela é mulher, é parva e está à espera dum príncipe encantado que lava panelas. Vai com o caralho, baza! – Disse o mais gordo.

Não encontrei Deus pelo caminho, por isso apanhei o autocarro e nunca mais vi aquele pássaro estúpido na vida. Mas acho que a Med o vai encontrar em breve…

8 comentários:

M disse...

Aiiiiiiiiiiiiiiii que morro de riso já aqui!!!!!!!!!
lolololol
Ó faxavor, principe encantado! As panelas são para arear, quero ver o meu reflexo!
lol

Artemisa disse...

Med, quando vires o poupas, já sabes... FOGEEEEEE!!!!!
LOL

Rita disse...

Mas que bem que falas eslovaco, belo sotaque. Eu sempre disse que aquele Poupas era de desconfiar...
Jokas

Maria Inês disse...

Tipo, adorei. Só isso. =)

durkheim disse...

Oh moribundo tu andas um poeta, ui ui :P

grande texto!

Mokas disse...

excelente!

odeusdamaquina disse...

Isto é verdadeira dramaturgia à Harold Pinter! Os Soldados, as gajas e gajos a levar porrada, sim senhor! (fez-me lembrar "Uma para o Caminho" e "Língua da Montanha", as peças mais expressionistas e misteriosas de Pinter, que navegam nas memórias dos protagonistas.
Abraço!

Mokas disse...

epah Moribundos, tive de voltar cá para ler esta pérola da literatura...
Só não sei se o poupas era um xibo.. ou chibo? que denunciou o teu paradeiro aos socretinos... de qualquer modo:
Med, se vires o poupas, e ele te perguntar por cuscus, manda-lhe com as serpentes e diz que não sabes cozinhar, nem sabes o que é uma panela. Mas sabes no entanto o numero da telepizza. O poupas é um healthfreak pelo que irá debandar rapidamente.