Eu não gosto de escrever coisas sem nexo e a estória que se segue faz todo o sentido e não é pouco curta.
Certo dia, andava a passear numa grande superfície comercial que rima com contente. E passeava por entre dos milhentos artigos, utéis, fúteis e inúteis. Haviam também artigos para comer, beber, limpar e sujar, nenhum me interessava, só parei ao pé dos artigos para brincar.
Gosto de legos, mas os legos são caros, peguei numa caixa de legos, sorrateiramente abri caixa e enfiei o conteúdo no bolso do casaco, eu uso casacos largos, uso porque são confortáveis e quentinhos por vezes. Tudo bem.
À saída do estabelecimento, estavam um segurança e um polícia à minha espera, revistaram-me, encontraram os legos. Riram-se humilhando-me à frente dum casal de velhinhos com um dos seus netos que também queria legos, escapei no entanto com uma repreensão e deixaram-me ficar com os legos. Eu para demonstrar o meu agradecimento citei-lhes um velho ditado popular, "Homem que faz castelos de areia, mulher que mete o dedo e não é para pedir boleia". Agradeceram-me o meu sábio conselho, retribuindo com peta zetas, e eu raios, delirei porque já não comia peta zetas desde criança menina e aquilo é fixe porque faz estalinhos na língua o que me obriga a fazer caretas e eu gosto de caretas porque são divertidas. Ficamos a fazer caretas durante uns minutos mas depois o polícia teve de ir socorrer um jovem rapaz que acabava de ver os seus órgãos genitais arrancados pela bocarra dum pitbull.
Isto foi de tarde, porque à noite eu tinha de ir a uma festa, a que de resto fui mesmo. Era em Ermesinde e não havia gajas boas, não senhor. Haviam gajas razoavelmente jeitosas, o que já não é mau. Gajas daquelas mesmo boas já não estou acostumado a ver desde que deixei Bratislava, adiante.
Era de noite e a festa era numa casa Okupa, gerida por um punk meu amigo. Apesar de ser noite fazia um sol radioso, o jardim estava bem iluminado e as pessoas estendiam-se sobre a relva escutando Glenn Miller, relaxadamente, ao mesmo tempo que saboreavam um bom copo de muralhas, que é um vinho que sem ser, é quase alvarinho.
Eu tinha chegado à rasquinha para ir à casa de banho aliviar-me, então de imediato para lá me dirigi. Era uma pequena casa de banho, velha, branca e desorganizada. Por cima da sanita existiam dois pequenos armários, do estilo prateleira que insistiam em cair por cima de mim, enquanto eu obrava. Enquanto tentava encaixar os armários no devido lugar lembrei-me que tinha faltado a qualquer coisa que me tinha esquecido… Ah! Finalmente estava aliviado, tinha cagado uma bela dose de cogumelos laminados, tinham tão bom aspecto que quase me decidi a salteá-los em óleo de soja, mas achei nojento cozinhar algo que tinha saído de dentro de mim, portanto decidi fritar uns ovos.
Quando me encaminhava para a cozinha, sou surpreendido pela polícia brasileira. – Merda – pensei – Tenho de esconder os legos.
Reparei que a maioria do pessoal já se tinha posto a monte, eu não tinha como fugir sem ser visto, pensei em entregar-me, não sabia o que fazer… A carrinha da polícia brasileira parecia sardinha em lata, estava cheia de peixe, talvez me deixassem escapar visto não terem espaço para gandulos, deixei-me estar escondido atrás duma mola de roupa azul, talvez não reparassem em mim se me mantivesse encolhido, mas os sacanas repararam e tentaram puxar-me pelos cabelos com veemência. Felizmente eu tinha rapado o cabelo naquela manhã e fugi mostrando a minha língua de lagarto com duas pontas e esticando os dedos médios de ambas as mãos.
Eles ficaram putos, mesmo chateados e três deles empunharam um grande ganha-pão para me caçarem, estava lixado, não ia conseguir fugir por muito mais tempo, porque estava a usar uma imitação foleira de chinelos crocks e com o suor, os meus pés estavam sempre a escorregar, então rendi-me e tentei o dialogo.
Disse-lhes que a casa era alugada, mostrei recibos, e eles já sabiam disso tudo. MAS como a casa era alugada por apenas 75€ mensais, insistiam que ali se passava algo de obscuro, que o inquilino vendia LSD e apontaram para um cartaz na fachada da casa – ALUGA-SE CD ANIMALS – Um nome de código para LSD diziam eles. E eu que os únicos animals que conheço são os da house of the rising sun, fiquei sem saber que mais argumentar.
Leram-me os direitos, e eu ri-me, perguntei-lhes se sabiam que a minha alcunha é Caladinho, eles batarem-me e dissera-me para eu aprender a estar calado, voltaram a repetir que tudo o que disser pode ser usado em tribunal, principalmente se eu disser coisas do tipo, o Benfica é o maior. Aí percebi que a polícia brasileira estaria feita coma máfia do norte.
A esquadra era alcatifada e bolarenta, não sabia que havia um bocado de Brasil entre o Alto-da-Maia e Ermesinde. Estava dentro da esquadra sentado num comprido banco de madeira, esperando pelo Aníbal, não sabia quem era nem o que me queria. Ninguém me viagiava, faziam umas duas ou três horas, por isso decidir ver o que se passava nas catacumbas.
Eram umas catacumbas bonitas, havia uma sala principal grande e quadrada com azulejos do Júlio Resende. No entanto havia uma fuga de água e o chão estava ligeiramente alagado, a um canto encontravam-me um par de prostitutas-strippers, tinham as mamas descaídas, no canto oposto estava a carrinha da polícia, vazia, e de lado, tinha um aspecto cansado e ainda cheirava a peixe, estava a descansar.
Voltei ao banco de madeira, um pouco desiludido com as catacumbas, esperei até à manhã seguinte, aí os polícias levaram-me à varanda do 3.º andar, onde me ensinaram a explodir uma casa com um feixe de luz, foi o preço da minha pena, deixaram-me ir de seguida com duas condições, tinha de ficar com o Andy durante duas semanas e tinha de levar 5kg de peixe comigo.
Não conhecia o Andy de lado nenhum e não estava muito agradado com a situação, mas os polícias estavam a ser tão simpáticos apesar dos seus aspectos másculos, e mal encarados, que aceitei. Afinal o Andy era um duende irlandês que sabia muitas anedotas e sabia transformar sumo de laranja em cerveja preta, ainda nos divertimos bastante durante essas duas semanas em que comemos peixe assado várias vezes. Só fiquei chateado por o sacana me ter roubado a gaveta em que o deixei dormir durante esse tempo.
Finalmente lembrei-me do que tinha de fazer, quando me tinha esquecido daquela coisa, que enquanto tentava encaixar os armários da casa de banho no devido lugar, me tinha lembrado que tinha faltado a qualquer coisa que me tinha esquecido. E continuava com medo porque o Aníbal não tinha aparecido na esquadra e podia estar a vigiar os meus movimentos, continuei a jogar playstation contudo e ainda fiz uns bons movimentos que resultaram em golo.
6 comentários:
Bem é caso para dizer estás um bocadinho muribundo não?? =)
Não consegui perceber se era tudo ficção, ou se aquela história dos legos tem um quê de verdade ehehe mas a estória faz todo o sentido? onde? é que não vi nada..
Imaginação fértil por ai....=)
kiss kiss**
Andas a tomar umas cenas fixe!
E eu devo andar a ficar doidinha, porque tudo fez imenso sentido nesta cabecinha oca!
Porque razão não construíste uma ponte para o Brasil com os pedacinhos de lego que tinhas? Assim negociavas a tua libertação... ou pelo menos o facto de poderes dizer quantas vezes quiseres que "O Benfica é Maior!", se bem que ultimamente não o seja, nem remotamente! :p
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Que estória fantástica,um misto de Twilight Zone com Trainspoting...
Pena que era só um jogo de Playstation.
Jokas
loool
muribundo fica sugadinho a jogar o belo do futebol e larga os jogos violentos :)
a tua imaginação é muito fertil :)
bjinhos
o que eu me ri! mt bom...
bem, digamos que só tenho duas opções para este texto...que granda trip ou que atrofio de sonho!
infelizmente os meus sonhos sao ainda mais atrofiantes que este texto, mas admito que duendes isrlandeses que transformam sumo em cerveja dá um jeitasso! :P
Med! já sei a quem vou pedir os "legos"!
Rita, realmente é isso.... bue trainspotting...
Moribundo, Ermesinde tem gajas boas, ou tinha! mas qdo a policia brasileira foi destacada para lá, elas tiveram que sair para a Bulgária. Também não é assim tão longe... é a Sudeste de Setubal.
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