Mirror on the wall

A condição feminina às vezes tem coisas grotescas. É facílimo a uma qualquer mulher passar de sensual a maltrapilho. A ditadura dos tamanhos assim o exige! Tão depressa se veste um extra small como um large, sem mudar de dia nem loja... e vê-se cada coisa mais aterradora nos provadores! Há peças que só foram feitas para ficar bem em pessoas esqueléticas! Que ditadura!

E quando o calor aperta e toda eu decide comprovar a lei da física? Os corpos em exposição ao calor expandem-se, e as roupas ficam todas mais APERTADAS.

Geralmente nestas circunstâncias comprova-se a verdade insofismável da Lei de Murphy, tudo o que pode correr mal corre mesmo mal, mesmo quando NADA PODIA CORRER MAL! Desde as calças de ganga que escorregam rabo abaixo, o ar completamente esbaforido que escorre através de nós, até o aspecto desalinhado que a roupa recentemente lavada e passada a ferro ostenta.

E que dizer das primas a querer saltar do decote? Não chérrie, não me estou a fazer, o cabelo está-se-me a colar ao gloss e a arranhar-me o pescoço... e a alça do soutian deslizou ombro abaixo, secundado pela carteira que só parou, milagrosamente, no cotovelo. E não ficar o conteúdo espalhado no chão é SORTE!

Por isso defendo que qualquer mulher em dia menos bom - incluídos os dias da menstruação em que o mau humor se pressente num vislumbre, qual aura maquievélica - se vá mirar à Pull and Bear do Forum... aquele espelho na área dos provadores é absolutamente... ALICE IN WONDERLAND!

Eu que sou uma gaja normal, alta é verdade, mas bem constituída... olho-me naquele espelho e pareço uma modelo escandinava! Ó espelho maravilhoso, toda a mulher devia ter um assim em casa! O que interessa se não é real? Eles não andam fartinhos de dizer que essa mania das dietas e das magrezas é uma coisa só nossa?

Ah... ainda me estou a ver reflectida... 1m80, pernas esculturais, um pescoço de garça e uma carinha daquelas que pode ser fotografada de uma perspectiva mais baixa, que fica sempre bem! Ó mãe... estás a ver!!! Era estes genes que eu queria para mim!

E desvanecido o tom brincalhão, os tipos deviam ser processados: quanta miúda estúpida não saiu dali convencida que levava uma grande compra e depois em casa "não-me-fica-assim-tão-bem-que-vergonha-vai-já-para-o-fundo-da-gaveta-e-nunca-mais-a-quero-ver.

Qual obsessão pelas compras! Jogos de espelhos, um mero jogo de espelhos, filhos da puta (in)consequentes!

N.B.: Quando tiver dinheiro para casa própria vou encomendar todos os espelhos ao mesmo fornecedor da Pull and Bear, e ordenar que sejam ligeiramente côncavos... não me importo de ser (auto)enganada, desde que isso me faça (imensamente) feliz.