sábado, fevereiro 10, 2007

Comédia de enganos

Quem tentamos nós enganar quando saimos à rua, alguém nos dá um encontrão e dizemos "Não faz mal, não me magoei." Ou quando gracejamos com coisas que nos magoam, como o aspecto desmazelado que temos naquele dia, ou a nossa vida que nunca mais arranca.
Parece que falamos das coisas com leveza como se não nos importássemos com essas mesquinhices, mas no fundo aperta-nos o coração. Doi-nos a nós, mas diverte os outros.
Lembro-me de inúmeros episódios desses, todos eles hilariantes à sua maneira, mas tristes, e sobretudo vulgares. Porventura são tristes na sua vulgaridade, na normalidade que faz questão em nos cercar.
"Querida! Tenho uma surpresa para ti!"
Que amável, pensamos logo, afinal ainda nos consegue surpreender. Pois consegue...
"Comprei um computador novo!" - ou então- "Vou a Londres" - não vamos, vou, tu ficas.
"Que se passa, não estás feliz por mim?"
E tudo se passa a este nível de pequenos enganos, pequenas mentiras - claro que estou contente por ti - contente, não feliz.
E se a vida se faz de pequenas coisas e pequenas mentiras, que dizer daqueles lugares comuns em que todos acreditamos? "Quem gosta de animais só pode ser boa pessoa". Pois... Foi assim que fiquei em casa de uma velha no meu 1º ano. Quando fui ver a casa, num dia insuportavelmente quente e abafado de Agosto, a velha tinha uma cadelinha branca amorosa, uma gata velha e esquiva, e dois canários engraçados.
A realidade afinal era completamente diferente, a cadela deu sumiço (desconfio que era um isco para jovens parvas), a gata velha e esquiva afinal não era esquiva, era ninfomaníaca e estava permanentemente com o cio, e os canários era barulhentos, sujos e cheiravam mal. Fiquei naquela casa um ano inteiro, um ano que me custou imenso a suportar e que me trouxe para a vida adulta ao som das discussões com uma completa estranha. Tudo isto porque a mulher tinha uma cadela amorosa.
Mas do que eu acho mesmo piada é das confusões fruto de más-interpretações: - "Espera, bodycombat é como Step? Tu não bates em ninguém?" - NÃO!!! - "Ah, pensei..." - Pois pensou... medo, muito medo!!!
O mal está justamente em pensar, em esperar alguma coisa de consistente vindo dos outros: a surpresa só é surpreendente pelos maus motivos, quem tem animais nem sempre é boa pessoa, na verdade aquela foi a pior pessoa que alguma vez conheci (uma vez sonhei que ela morria de ataque cardíaco e eu era constituída arguida), e aquilo que os outros pensam nem sempre se reflete na linguagem que usam, aliás, os conceitos descritivos não servem para descrever nada, servem para nos enganarmos mutuamente em como nos compreendemos tão bem.

1 comentário:

durkheim disse...

BodyCombat?! :P mas alguem tem medo de ti?? ahahahahahahahahaha conheço essa conversa de algum aldo! em relação a londres já falamos um pouco :P
e da velha onde tu vivias venham mais historias da tua vidinha negra lá naquela casa, será q a velha tb nao era ninfomaníaca e queria-t tirar lá de casa para or pra lá gajos?? aHAHAHAHHAHAHAHAHAH lolol

Cheers!