Obviamente fiz algum barulho e denunciei-me. Alguns minutos volvidos tocam freneticamente à campainha e como eu odeio aquela campainha!! Se sofresse do coração não resistia a tão estridente trrrrrrrrruuuuuuuaaam!! Respiro fundo depois do susto, espreito pela janela inocentemente a pensar que seria alguém meu conhecido. RAIOS partam a puta da velha! Conheci-a sim, como me podia esquecer da frelorista horrível?
- O menino pode vir cá abaixo?
OH QUE CARALHO! Não me acreditava que ela ia tripar outra vez por causa do barulho, caramba, ainda era cedo… Teria incomodado algum cliente? Toca a descer as escadas, abro a porta e lá estava a trombuda que sem um olá dispara:
- Já falou com os seus colegas?...
- Hmmm? – Não me recordava que tinha de falar com eles.
- Por causa das obras, vocês têm de as pagar! – Vinha aí discussão, porque é que ela só me apanha a mim em casa?
- Já falei com eles e eles disseram que não fizeram nada do que a senhora disse, não mandamos preservativos nenhuns pelo cano abaixo portanto não sei que lhe diga.
- Ah! Vocês vão pagar!!! – A mulher elevava o tom de voz de frase para frase.
- Eu não pago nada, não me vou responsabilizar por uma coisa que não fiz.
- E os seus colegas, responsabiliza-se por eles?
- Eu não tenho de me responsabilizar por ninguém, eu falo por mim, não pago, agora se quiser fale com eles, fale com o senhorio e depois que me digam qualquer coisa.
- Não vão pagar? Ah é?!!
- Sinceramente não me parece, mas fale com o senhorio e se ele achar que devemos pagar que entre em contacto connosco. – Dito isto a mulher-bisonte pede-me para aguardar um minuto e dirige-se à loja.
Encostei-me à porta, cruzei a perna e questionava-me se ela teria ido buscar uma caixa ou qualquer coisa com o lixo que o picheleiro havia retirado. Mas não, ela voltava acompanhada pelo filho e por uma senhora que costuma passear o seu cão ridículo de
Pronto, estava o caldo entornado, ia ser bonito o que estava para vir… Não podia perder a calma e então sorri e esperei.
O filho meio encolhido entre as duas aproxima-se e diz:
- Não querem pagar? Mas vocês têm de pagar isto é conjunto, se tivéssemos mandado os homens das águas arranjar isto vocês só iam saber do arranjo quando vos aparecesse a conta da água. – Aqui sim tive de fazer um grande esforço para me conter, o homem tinha voz de gaja! Ai meu Deus!! Que riso interior, só tinha visto algo assim num vídeo do youtube.
- Por mim podiam ter chamado à vontade a companhia das águas, pelo menos sabia alguma coisa. Agora não vi canalizador, não vi obras, não vejo recibos, não vi lixo nenhum. Além de que não tive voto na matéria, se queriam mandar vir o canalizador no mínimo o que deveriam ter feito era ter falado connosco de antemão… - Fui interpelado pela outra senhora, chamemos-lhe dona Cusca porque não faço ideia do que ela estava ali a fazer.
- Vocês têm de pagar não adianta fugir com o cu à seringa, vocês são uns malandros mal-educados, fazem basqueiro até ás tantas, o outro dia eram 3 da manhã e estavam aqui numa farra medonha com aquelas badalhocas. – Eis que a mulher-bisonte volta a falar.
- E uma delas até me fez um sinal assim com o dedo e eu não percebi o que aquilo queria dizer senão tinha-lhe partido os dentes, logo ali.
- E eu também, se fosse comigo ela ia ver. – Acrescenta a dona Cusca.
Neste momento enervei-me e elevei o tom de voz pela única vez de modo a que não fosse interrompido:
- Viu um dedo e qual é o problema? Lembra-se dos nomes que lhes chamou? Não tem nada a ver? Olhe que para mim isso tem muito a ver, e depois o barulho não tem nada a ver com a canalização e não eram 3 da manhã, era uma da manhã, já não havia novela na televisão? E foi uma vez que aconteceu, diga-me quantas vezes fizemos barulho desde que estamos aqui! Já aconteceu? Diga-me quantas vezes! Foi um jantar de despedida e não lhe admito que falte ao respeito ás minha amigas! Queria vê-la a partir os dentes à minha amiga fechada dentro da loja, escusa de nos vir ameaçar com uma chave de fendas na mão. Quando se sentir incomodada tenho ali uma campainha e pode perfeitamente chamar a policia se preferir.– Já meio confuso com a minha cólera deixei a dona Cusca tomar voz no debate ao mesmo tempo que o filho da mulher-bisonte amedrontado se esquivava para dentro da loja.
- Eu sou nascida aqui da próxima vez que fizeram barulho eu e o meu irmão deitamos-lhes a porta abaixo e damos-lhes uma carga de lenha para aprenderem!!! – Ri-me e respondi:
- Quero lá saber se a senhora é daqui ou dali, eu sou das Caxinas e depois? Você não tem nada a ver com isto mas não se esqueça das suas palavras caso seja preciso chamar a policia e não se esqueça que também não sabe com quem se está a meter. – Volta a mulher-bisonte à carga:
- Nesta casa não entra mais nenhum estudante quando vocês saírem, vou falar com o senhorio e vou entupir a caixa outra vez para vocês ficarem com o problema é o que vocês merecem! Têm uma casa restaurada, quase nova por vossa conta e depois é isto que se vê!!!
- No dia que fizer isso, saímos todos daqui e fica com o problema para si… - Respondi.
- Vá falar com o senhorio, ligue-lhe, ligue-lhe. – Insistia a dona Cusca ao mesmo tempo que se ia afastando da discussão.
- A senhora não tem nada a ver com quem vem morar para aqui e parece-me que tem telhados de vidro senão a esta hora já teria chamado a policia. Mas fale com o senhorio, fale, ligue-lhe que tem o meu apoio, depois ele que entre em contacto connosco, fico à espera.
Viraram-me costas entre murmúrios, ainda apanhei um ou outro insulto pairando pelo ar, as duas mulheres afastaram-se e entraram na loja. Devem ter continuado a demonstrar a sua indignação acerca da pessoa horrível que eu sou.