domingo, fevereiro 25, 2007

A saga da frelorista continua

Eram 6:30 da tarde, num dia qualquer da semana. Estava em casa a bonecar, recorri ao berbequim algumas vezes e lá dei uma ou outra martelada.
Obviamente fiz algum barulho e denunciei-me. Alguns minutos volvidos tocam freneticamente à campainha e como eu odeio aquela campainha!! Se sofresse do coração não resistia a tão estridente trrrrrrrrruuuuuuuaaam!! Respiro fundo depois do susto, espreito pela janela inocentemente a pensar que seria alguém meu conhecido. RAIOS partam a puta da velha! Conheci-a sim, como me podia esquecer da frelorista horrível?
- O menino pode vir cá abaixo?
OH QUE CARALHO! Não me acreditava que ela ia tripar outra vez por causa do barulho, caramba, ainda era cedo… Teria incomodado algum cliente? Toca a descer as escadas, abro a porta e lá estava a trombuda que sem um olá dispara:
- Já falou com os seus colegas?...
- Hmmm? – Não me recordava que tinha de falar com eles.
- Por causa das obras, vocês têm de as pagar! – Vinha aí discussão, porque é que ela só me apanha a mim em casa?
- Já falei com eles e eles disseram que não fizeram nada do que a senhora disse, não mandamos preservativos nenhuns pelo cano abaixo portanto não sei que lhe diga.
- Ah! Vocês vão pagar!!! – A mulher elevava o tom de voz de frase para frase.
- Eu não pago nada, não me vou responsabilizar por uma coisa que não fiz.
- E os seus colegas, responsabiliza-se por eles?
- Eu não tenho de me responsabilizar por ninguém, eu falo por mim, não pago, agora se quiser fale com eles, fale com o senhorio e depois que me digam qualquer coisa.
- Não vão pagar? Ah é?!!
- Sinceramente não me parece, mas fale com o senhorio e se ele achar que devemos pagar que entre em contacto connosco. – Dito isto a mulher-bisonte pede-me para aguardar um minuto e dirige-se à loja.
Encostei-me à porta, cruzei a perna e questionava-me se ela teria ido buscar uma caixa ou qualquer coisa com o lixo que o picheleiro havia retirado. Mas não, ela voltava acompanhada pelo filho e por uma senhora que costuma passear o seu cão ridículo de 12 polegadas pela rua.
Pronto, estava o caldo entornado, ia ser bonito o que estava para vir… Não podia perder a calma e então sorri e esperei.
O filho meio encolhido entre as duas aproxima-se e diz:
- Não querem pagar? Mas vocês têm de pagar isto é conjunto, se tivéssemos mandado os homens das águas arranjar isto vocês só iam saber do arranjo quando vos aparecesse a conta da água. – Aqui sim tive de fazer um grande esforço para me conter, o homem tinha voz de gaja! Ai meu Deus!! Que riso interior, só tinha visto algo assim num vídeo do youtube.
- Por mim podiam ter chamado à vontade a companhia das águas, pelo menos sabia alguma coisa. Agora não vi canalizador, não vi obras, não vejo recibos, não vi lixo nenhum. Além de que não tive voto na matéria, se queriam mandar vir o canalizador no mínimo o que deveriam ter feito era ter falado connosco de antemão… - Fui interpelado pela outra senhora, chamemos-lhe dona Cusca porque não faço ideia do que ela estava ali a fazer.
- Vocês têm de pagar não adianta fugir com o cu à seringa, vocês são uns malandros mal-educados, fazem basqueiro até ás tantas, o outro dia eram 3 da manhã e estavam aqui numa farra medonha com aquelas badalhocas. – Eis que a mulher-bisonte volta a falar.
- E uma delas até me fez um sinal assim com o dedo e eu não percebi o que aquilo queria dizer senão tinha-lhe partido os dentes, logo ali.
- E eu também, se fosse comigo ela ia ver. – Acrescenta a dona Cusca.
Neste momento enervei-me e elevei o tom de voz pela única vez de modo a que não fosse interrompido:
- Viu um dedo e qual é o problema? Lembra-se dos nomes que lhes chamou? Não tem nada a ver? Olhe que para mim isso tem muito a ver, e depois o barulho não tem nada a ver com a canalização e não eram 3 da manhã, era uma da manhã, já não havia novela na televisão? E foi uma vez que aconteceu, diga-me quantas vezes fizemos barulho desde que estamos aqui! Já aconteceu? Diga-me quantas vezes! Foi um jantar de despedida e não lhe admito que falte ao respeito ás minha amigas! Queria vê-la a partir os dentes à minha amiga fechada dentro da loja, escusa de nos vir ameaçar com uma chave de fendas na mão. Quando se sentir incomodada tenho ali uma campainha e pode perfeitamente chamar a policia se preferir.– Já meio confuso com a minha cólera deixei a dona Cusca tomar voz no debate ao mesmo tempo que o filho da mulher-bisonte amedrontado se esquivava para dentro da loja.
- Eu sou nascida aqui da próxima vez que fizeram barulho eu e o meu irmão deitamos-lhes a porta abaixo e damos-lhes uma carga de lenha para aprenderem!!! – Ri-me e respondi:
- Quero lá saber se a senhora é daqui ou dali, eu sou das Caxinas e depois? Você não tem nada a ver com isto mas não se esqueça das suas palavras caso seja preciso chamar a policia e não se esqueça que também não sabe com quem se está a meter. – Volta a mulher-bisonte à carga:
- Nesta casa não entra mais nenhum estudante quando vocês saírem, vou falar com o senhorio e vou entupir a caixa outra vez para vocês ficarem com o problema é o que vocês merecem! Têm uma casa restaurada, quase nova por vossa conta e depois é isto que se vê!!!
- No dia que fizer isso, saímos todos daqui e fica com o problema para si… - Respondi.
- Vá falar com o senhorio, ligue-lhe, ligue-lhe. – Insistia a dona Cusca ao mesmo tempo que se ia afastando da discussão.
- A senhora não tem nada a ver com quem vem morar para aqui e parece-me que tem telhados de vidro senão a esta hora já teria chamado a policia. Mas fale com o senhorio, fale, ligue-lhe que tem o meu apoio, depois ele que entre em contacto connosco, fico à espera.
Viraram-me costas entre murmúrios, ainda apanhei um ou outro insulto pairando pelo ar, as duas mulheres afastaram-se e entraram na loja. Devem ter continuado a demonstrar a sua indignação acerca da pessoa horrível que eu sou.



Monstra das bolachas

Bolacha, bolachinhaaaaaa!!!
De chocolate, com passas, com recheio,
Crocantes ou macias,
Bolacha, bolachinhaaaaaa!!!

Petiscar, depenicar,
Bolacha, bolachinha.
Comer ou devorar
Bolacha, bolachinha.

E depois... engordar,
Baleia, lontrazinha,
E depois... desesperar,
Estou feia e gorduchinha.

sábado, fevereiro 24, 2007

Rua da Ilha - o início

Na Rua da Ilha, numa casa cheia de regras e papeis velhos afixados a pionés, escrevinhados numa letra infantil e irregular, com erros ortográficos, rasurados, riscados, vivia e ainda vive uma velha "senhora", de aspecto intemporal, como todas as velhas destinadas e determinadas em infernizar a vida dos outros.
Esta "senhora" era, e deve continuar a ser, muito zelosa dos seus bens materiais. Mal entrávamos tinhamos um papel a avisar-nos da necessidade imperiosa de só usar chinelos naquela casa. Todos os dias o ritual repetia-se: descer as escadas do 1º andar, com especial cuidado para não cair, já que havia nada menos que duas passadeiras sobrepostas, uma muito antiga e com aspecto muito sujo, a segunda de aspecto ainda mais sujo, mas daquelas baratas que se compram a metro nas retrosarias, descalçar os chinelos, calçar sapatos, descalçar sapatos e calçar chinelos, correr ao 1º andar em busca do guarda-chuva, descer as escadas, tropeçar, não cair, descalçar chinelos, calçar sapatos, sair.
No 1º andar e no R-chão continuava a haver tapetes por cima de tapetes. O chão tinha frio e carecia de aquecimento extra. Devido a grande fragidade de saúde do chão, os tapetes nunca eram removidos e havia uma camada de pó que era renovada todas as semanas com a ajuda de um aspirador tão velho que já ninguém adivinhava a cor original (com design robótico da guerra das estrelas, episódio IV).
Na casa de banho do 1º andar, o esquentador a gás convivia paredes meias com o "poliban" (quando tomei conhecimento dos taliban, pensei: devem ser da mesma família, mas um é poli, dá para mais coisas, o outro é tali, de grande), e com demais artefactos de louça, todos empilhados nuns exíguos 6 m2. Como o vapor dava cabo da alva pintura das alvas paredes, tomava-se banho com a janela aberta, já que as correntes de ar fortificam a saúde.
Colado a fita-cola, adivinhava-se uma mensagem encriptada que dizia qualquer coisa como: "É fa bor nao mecher no butão do gaz". Tal pedido nunca era atendido, já que urgia colocar o botão no máximo sempre que a velha decidia que 10 minutos no banho já era tempo de mais, e tomada de uma fúria valkirica, abria todas as torneiras na cozinha e casa de banho e deixava a infeliz sem água quente. Sim, mais de 10 minutos de banho era um horrível dispêndio de água e gás!.
Das janelas enormes do quarto havia uma vista maravilhosa sobre telhados multicolores em escadinha e ao fundo, o rio. Mas a janela não podia permanecer aberta. O sol danificava a madeira, e a única maneira de a proteger era fechando as persianas.
Quando chovia a água escorria torrencial pelas paredes, pelo candeeiro, utlizando caminhos trilhados por fios eléctricos, milagrosamente.
Na cozinha conviviam em perfeita desarmonia a gata velha, ninfomaníaca e frustada sexual com os dois canários estridentes e ensandecidos. Os azulejos que revestiam a parede do fogão não viam produtos de limpeza há anos, e no chão era frequente pisar pedaços de ração de gato bolorenta. Na pia, misturava-se indiscriminadamente os pratos sujos de refeições gordurosas com vários dias e o prato da gaiola dos canários, repleta de merda de pássaro.
Nunca cheirava a mijo de gato naquela cozinha, já que a velha achava que o telhado servia de depósito das necessidades do animal.
A porta de entrada, de madeira sólida e repintada 5 vezes tinha um fecho de correr que só abria do interior, que era meticulosamente fechado todas as noites, um ritual minuciosamente cumprido, não fossem os ladrões entrar connosco lá dentro.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Revivalismo tendencioso

Estudar direito na Faculdade de Direito de Coimbra é um trabalho a tempo inteiro: extingue qualquer fulgor criativo, destroi metade das ligações neuronais, por outras palavras, tira-nos anos de vida, de energia e inteligência.
Raros são os tipos que saiem daquela faculdade sem terem experimentado uma fase de cansaço, daquelas em que se troca a gramática, o género e o número não concordam com o substantivo, e o complemento circunstancial de modo, de tão complexo, parece que é tecla repeat.
E a verdade é que para tirar direito em Coimbra, não é preciso ser muito inteligente, é preciso ser-se esperto, audaz, trabalhador e persistente.
Os nossos professores não querem alunos inteligentes e criativos, querem cassetes de repetição: "o Código de Hamurabi contém os primeiros direitos escritos relativos a mulheres...", ou então "a Escola da Exegese, impulsionadora do Positivismo Jurídico, compreendia que a interpretação era uma operação lógico formal, em que da premissa maior, a letra da lei, se deduzia a premissa menor, a resposta ao concreto problema jurídico decidendo". Seca, não é? Isto nem é um exemplo difícil!
E quando falo em alunos persistentes e audazes... bem... temos toda uma escola de ouvir e calar:
- "Alguém tem dúvidas?"
- "Sim, ..."
- "Por favor! Isso não é uma dúvida, é falta de estudo!"
ou então, numa oral de Direito Comercial:
- "Diga-me qual a semelhança entre o direito comercial e um ovo estrelado"
e numa oral de Economia Política, do 1º ano:
- "Qual a semelhança entre o Sistema Capitalista e a Madre Teresa de Calcutá?"
e que dizer do funcionário, que responde sempre bruscamente, quando responde, e que quando utilizada a forma consensual de agradecimento,
-" Obrigado nada, isto é o meu trabalho, estou-me a cagar para si, agora va-se lá embora!"
ou quando foram todos chumbados, dias a fio, porque não sabiam que uma lei constitucional era uma lei de revisão (uma mera linha num livro com 1500 páginas), ou a humilhação pública, com direito a sala cheia, porque disse que o senhorio era notificado do trespasse de estabelecimento comercial, quando na verdade este era notificado da mudança de arrendatário (o que em termos práticos, significa que o homem fica a saber que houve trespasse e agora quem lhe paga as rendas é outro sujeito qualquer).
Em Coimbra perdemos anos de vida, desde estudar teorias completamente caducas, só para aprimorar a nossa "sensibilidade" jurídica, até sujeitarmo-nos a orais, para as quais estudamos que nem bestas, sabendo que mesmo assim nos sujeitamos a uma humilhação pública se a resposta não for a correcta, em que os insultos vão desde a falta de rigor ao artigo 25º, n.º2 da Constituição: "Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou desumanos".
- "Leia o artigo 25º, n.º 2 e vá-se embora, esta oral está a ser uma tortura, o Senhor é um ignorante!".
Com tratamentos tão desumanos, muitas vezes a única opção de se passar a uma cadeira, é esperar que o professor se jubile, peça licença sabática ou então morra. Durante anos, os suspiros perante a bandeira a meia haste iam para o professor de Finanças Públicas. Como morreu, nos últimos anos recaiem sobre o professor de Teoria Geral do Direito Civil e Direito da Família e das Sucessões... e se é verdade que só quando morrem abandonam a cátedra... este último já teve 2 ataques em orais de passagem, mas "enquanto há vida há esperança".
Não se riam, é verdade! Já houve desmaios em frente à porta das orais, já houve caganeiras tempestivas, crises de vómitos... choros copiosos em dias de oral são o pão nosso de cada dia.
Valeu a pena?
Vejo colegas meus sairem de Lisboa com médias 2 valores mais altas que a minha, a não saberem coisas básicas, mas a sermos comparados e avaliados como se viessemos todos do mesmo sistema de ensino, e acho que não valeu a pena.
Ninguém me devolve as noites mal dormidas, as noitadas de estudo, o esforço em engolir coisas que não tinha de ouvir nem passar por elas para me formar como jurista.

domingo, fevereiro 11, 2007

A cabra da vizinha frelorista, o inicio

Era um belo dia de Inverno, o Sol brilhava intensamente. Já passava da uma da tarde quando me pus a caminho da faculdade, estava bem disposto embora tivesse uma frequência dentro de pouco tempo. Quando rodava a chave na fechadura trancando a porta apareceu um animal, uma fêmea que me perguntou:
- O menino é um dos que mora aqui?
Olhei o bisonte de alto abaixo com um sorriso nos lábios e respondi.
- Sou sim, um dos três, porquê?
- Ah! É que a caixa entupiu e mandei vir o canalizador, ele encontrou muito lixo, preservativos com caixa, pensos, ah pensos não, preservativos com a prata e tudo.
Com toda a calma respondi:
- Acho isso estranho, acho que nenhum de nós deita preservativos pela sanita, aliás eu tenho um caixote do lixo na casa de banho não tenho necessidade de mandar nada pelo cano…
- Ah, mas estavam, eu não vi nada e tenho pena que o picheleiro tenha deitado tudo fora, agora tenho uma despesa de 50€ e não sei como vai ser! Mas vou chamar a minha a filha, OH FILHA ANDA AQUI! Diz ao senhor o que se passou…
Claro que isto é um resumo, houve muito mais paleio pelo meio. Já começava a ficar farto da conversa da mulher e os ponteiros do relógio não paravam, queria ir para a faculdade tratar da minha vida. Então a filha, que sai à mãe aparece à porta e começa a falar bem à norte:
- Oie, é que isto taba uma badalhoquice, o pincheleiro tirou montes de lixo da caixa, taba uma porcaria toda entupida. Isto também acontece muito no meu condomínio mas ainda é mais porco, com mais preserbatibos e carradas de pensos, há pissoas mesmo porcas…
A Mãe, entrepôs-se e remata:
- O que lhe peço é que fale com os seus colegas e depois me diga qualquer coisa, eu vou falar com o senhorio e dar-lhe conhecimento das obras.
- Sim senhora, eu falo com eles, boa tarde.
E parti.
Nessa mesma noite deu-se o tal jantar e a peixeirada que referi num post anterior, dias depois o animal voltou à carga mas essa história bem mais divertida fica para outro dia.

sábado, fevereiro 10, 2007

!!!

Mamas, maminhas e mamalhões: não dão todas leite? Qual é espanto?
E as pernas não servem para correr e dar pontapés?
E as nádegas não servem para uma pessoa se sentar sem magoar o osso do cu? Não servem para disfarçar os peudos que a gente manda? Pfeee
Também não percebo essa treta dos olhos. Não servem para ver? A haver discriminação devia haver para as caixas-de-óculos.
E agora com aquela tipa, a joana escarlate, parece moda ter uma boca assim para o monte de carne em avançado estado de putrefacção.
O problema deve ser meu, mas não percebo mesmo nada desta merda.

Comédia de enganos

Quem tentamos nós enganar quando saimos à rua, alguém nos dá um encontrão e dizemos "Não faz mal, não me magoei." Ou quando gracejamos com coisas que nos magoam, como o aspecto desmazelado que temos naquele dia, ou a nossa vida que nunca mais arranca.
Parece que falamos das coisas com leveza como se não nos importássemos com essas mesquinhices, mas no fundo aperta-nos o coração. Doi-nos a nós, mas diverte os outros.
Lembro-me de inúmeros episódios desses, todos eles hilariantes à sua maneira, mas tristes, e sobretudo vulgares. Porventura são tristes na sua vulgaridade, na normalidade que faz questão em nos cercar.
"Querida! Tenho uma surpresa para ti!"
Que amável, pensamos logo, afinal ainda nos consegue surpreender. Pois consegue...
"Comprei um computador novo!" - ou então- "Vou a Londres" - não vamos, vou, tu ficas.
"Que se passa, não estás feliz por mim?"
E tudo se passa a este nível de pequenos enganos, pequenas mentiras - claro que estou contente por ti - contente, não feliz.
E se a vida se faz de pequenas coisas e pequenas mentiras, que dizer daqueles lugares comuns em que todos acreditamos? "Quem gosta de animais só pode ser boa pessoa". Pois... Foi assim que fiquei em casa de uma velha no meu 1º ano. Quando fui ver a casa, num dia insuportavelmente quente e abafado de Agosto, a velha tinha uma cadelinha branca amorosa, uma gata velha e esquiva, e dois canários engraçados.
A realidade afinal era completamente diferente, a cadela deu sumiço (desconfio que era um isco para jovens parvas), a gata velha e esquiva afinal não era esquiva, era ninfomaníaca e estava permanentemente com o cio, e os canários era barulhentos, sujos e cheiravam mal. Fiquei naquela casa um ano inteiro, um ano que me custou imenso a suportar e que me trouxe para a vida adulta ao som das discussões com uma completa estranha. Tudo isto porque a mulher tinha uma cadela amorosa.
Mas do que eu acho mesmo piada é das confusões fruto de más-interpretações: - "Espera, bodycombat é como Step? Tu não bates em ninguém?" - NÃO!!! - "Ah, pensei..." - Pois pensou... medo, muito medo!!!
O mal está justamente em pensar, em esperar alguma coisa de consistente vindo dos outros: a surpresa só é surpreendente pelos maus motivos, quem tem animais nem sempre é boa pessoa, na verdade aquela foi a pior pessoa que alguma vez conheci (uma vez sonhei que ela morria de ataque cardíaco e eu era constituída arguida), e aquilo que os outros pensam nem sempre se reflete na linguagem que usam, aliás, os conceitos descritivos não servem para descrever nada, servem para nos enganarmos mutuamente em como nos compreendemos tão bem.

Aborta-mos

Está quase, amanha já se arruma a questão!
Depois de semanas em que a comunicação social só deu aborto e nos intervalos deu referendo o martírio vai acabar.
Foi uma luta do caraças, houve muito paleio e muita discussão, uns quantos pozinhos de fundamentalismo e ideais confusos. Fez-se notar que o bom senso foi posto de lado… E a abstenção? Essa cá para mim vai ganhar, eu fiquei sem grande vontade de ir votar à medida que as semanas foram passando e as discussões parvas acerca do assunto multiplicavam-se na televisão, na rádio, nos jornais, nos cartoons, no café, na sala de aulas, no caralho mais velho.
Se amanhã não chover muito até vou picar o ponto, senão faço a vontade do nosso sinhor que está no céu e passo o domingo a preguiçar. O meu pai dá-me boleia até à junta de freguesia por isso devo ir, oh, espero bem que a minha mãe a seguir não se lembre de ir ver as montras. Teria de vir a pé para casa, ou então ver as montras com ela… Oxalá não chova!
Amanhã ainda se vai falar muito do aborto, na segunda também se vai falar muito, reacções e opiniões, grande seca. Nos seguintes dias o assunto deverá ser abortado, lentamente, até cair no esquecimento. Ai, gracias!!!
Depois vai ser só apito dourado e bola como Deus quer!

terça-feira, fevereiro 06, 2007

YEPA YEPA YEPA

Ora boas, belas e amarelas!
Chega-se a determinada altura na vida em que um gajo tem de optar por uma faculdade e um curso... Eu cá preferi uma faculdade de(a) tanga e um curso que nos dois primeiros anos me preparou convenientemente para assentar massa.
Então hoje aconteceu algo, olhei para esta coisa e achei que merecia umas obritas… Este blogue tem um aspecto no browser de merda da microsoft e outro no firefox. Se no primeiro apresenta-se mais organizadinho tem o inconveniente de aparecer uma faixa branca abaixo da bosta de vaca 100% pura. Já na rapoza de fogo está tudo desalinhado mas já não aparece a porcaria da faixa branca que me mete um NOJO uiiii!
De espátula em riste pus-me a mexer no dito HTML e lá consegui mudar pouca coisa, muito fraquinho… Vou ter que perder a minha dignidade e pedir ajuda a um daqueles rabichos fashôns de desiiiigneeeee!
(antes isso do que levar no cu como eles).
Espera-se para breve um arranjo floral, um lindo candeeiro abajur de pé ao canto, um quadro do Modigliani ao centro (ou então uma falsificação efectuada por Elmyr de Hory), imensos galhardetes, cachecóis, medalhas, taças e tacinhas do Benfica por todo o lado e uma sanita à caçador refundida no canto oposto ao do abajur para aliviar a tripa quando for preciso… Para já fica um vídeo fantástico desse senhor que nasceu para a música, Silverio, um homem de bigode ah! Respeito!
Deixa lá ver se o vídeo já não sai fora da caixa branca...


segunda-feira, fevereiro 05, 2007

não me apetece escrever

sábado, fevereiro 03, 2007

Parcas

Nestes dias frios de Inverno, gélidos, estarrecedora e estalactitamente gelados, três parcamente vestidas Parcas fiavam o fio da vida. Queixava-se a da esquerda, porque com tanta gente no mundo não parava de fiar, de enrolar a lã da vida nos seus dedos nodosos de tão idosos, e volta e meia lá se enganava, até que vinha a irmã da direita, toda solícita, e cortava o fio, exclamando: "Mais um aborto!".
Esta Parca era a menos infeliz. Tirava um grande prazer do seu trabalho, com a tesoura mágica cortava a vida dos desgraçados quando bem lhe apetecia, e não tinha de dar satisfações a ninguém: a irmã dava, ela tirava, e no tirar é que estava o ganho!
Volta e meia revoltavam-se as outras duas por lhe ter calhado a tesoura em sorte, resmungavam, rezingavam, mas acabavam por reconhecer que era ela a mais jeitosa para o corte.
A Parca do meio era a mais atarefada, costuma gracejar que devia ser a Patroeira das telefonistas: unia fios, desunia fios, enrolava-os a todos num novelo ou deixava-os por enrolar, esquecidos, a um canto. As vezes puxava os fios com tanta força, que quase os partia, mas nada de mais, eram só fios, e ela era só a Parca do meio.
E hoje, lá estavam as três, como sempre tinham estado, a fiar, enrolar e cortar o fio da vida. E como tantas vezes estavam caladas. Ao fim de séculos a trabalhar juntas já não havia nada a dizer, as palavras estavam todas gastas, de tão usadas, até que:
-"Hoje está mesmo frio!"
-"Não mais do que ontem."
-"É do aquecimento global."
-"Já ouvi dizer. Parece que estes humanos são mesmo doidos."
-"Pois são... qualquer dia finam-se e nós ficamos sem trabalho."
-"Temos de nos queixar ao Sindicato."
-"Esta Parca está parva! Somos só nós as 3, não temos sindicato!"
-"Pois não... Mas tenho pena."
-"É o sistema."
-"É a vida."

bichinha, bichinha!

Cortesia de Moribundo

Foi num fim-de-semana louco como a vaca, menos moribundo que o costume, que esta bichinha foi descoberta com um abcesso ocular. Tentámos levá-la à Dra. X, médica veterinária, mas levámos o belo do pontapé no rabo, já que o mal da gata não era abcesso coisa nenhuma.
Queixei-me então ao desenhador da infeliz, que retorquiu que a bicha estava boa de saúde, que era tudo uma questão de perspectiva.
Nós então olhámos, trocámos os olhos, franzimos o nariz, aproximamos o papel perigosamente das fuças, e nada. A bicha não mudava de aspecto, e nós não mudávamos de opinião.
Então olhei-lhe para as patas e descobri tudo: a bicha estava com sapatilhas diferentes e tinha de correr a maratona, daí o seu olhar infeliz...
"Já me viram? É como correr com quatro pés esquerdos!"