segunda-feira, abril 23, 2007

Crescer

Ando nestas coisas das dores de crescimento há tantos anos, que quando finalmente cessar de crescer vou estranhar. Primeiro foram os membros, alguns cms cada ano, para recalcar no íntimo do meu ser as calças por cima do tornozelo e camisolas com as mangas demasiado curtas... Depois foram as primeiras responsabilidades, as primeiras desilusões, as primeiras cabeçadas na parede, as primeiras fugas... e desde então nunca mais parou: a vida não cessa de arranjar novas formas de demonstrar como é possível alcançar novas formas de desilusão, sofrimento e dor.
As vezes até pensar custa... Passamos a nossa vida inteira à espera de qualquer coisa. Não que estejamos destinados para qualquer hipotético grande feito, não; estudamos para ingressarmos no mercado de trabalho com as melhores armas, e com o tempo crescem as nossas expectivas, que não as ambições, essas, latentes, fermentam no escuro. E as crises existenciais, tão vulgares, corriqueiras, começam a aparecer, levam um valente xuto no rabo, mas não desistem, qual cão sarnento de olhos húmidos e tristes. E nós olhamos para nós próprios, do alto das nossas expectativas, e pensamos... não vou pensar nisto agora, não vou gastar as minhas energias com um problema que não posso resolver, trato disto na altura adequada... O tempo foge, a vida adiada vai ficando poerenta pelos caminhos percorridos em busca de algo que não existe... Não que a felicidade esteja na busca, essa filosofia é boa para os enérgicos optimistas incansáveis. A felicidade não existe, nem nunca existiu. A felicidade está no passado distante cheio de expectativas por frustrar, naquele passado endeusado pela decadente memória humana.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não será certamente por acaso que se diz que são... dores de crescimento!!!!

Anónimo disse...

viver todos os dias cansa