terça-feira, julho 22, 2008

Momentos moribundos são momentos (de cair) redondos




Não me sentia bem, a ansiedade feria-me como garras de navalheiras, desatei a correr desalmadamente, sem rumo. É inicio de madrugada e chove imenso, quero lá saber, tenho de tirar esta sensação de dentro de mim, corro pelo meio da estrada, quero lá saber dos carros, aí vem mais um, vai buzinar para o caralho, já existiam humanos antes de criaram estradas e inventarem automóveis.
Corro mais um pouco e grito, berro e corro, os músculos das pernas parecem querer rasgar, a dor por estranho que pareça alivia-me, UugghaAaaRrrgh! O carro de há pouco passa novamente, buzina outra vez… Pára metros à frente, inverte o sentido da marcha, ouço o motor rosnar, não paro de correr, o carro arranca na minha direcção, vai passar-me a ferro.
Sem pensar, por mero instinto quando dou por mim estou deitado na valeta, ainda o ouço o motor do carro a trabalhar… Levanto-me e continuo a correr, desta feita entro pela vegetação que ladeia a estrada, aargh silvas, maldição, a minha mania com os calções! Sinto a sangue a brotar e a empastar-se na humidade dos meus membros inferiores.
Parece que os tipos do carro desistiram de mim, eu também estava mesmo a pedi-las, se calhar mais valia acabar com tudo… Já não consigo correr mais, estou encharcado, dói-me tudo, estou ferido nas pernas e nos braços, maldito silvado, depois admiram-se com os incêndios, tanta mata sem ordenamento. Avanço por um caminho de cabras que em conjunto com as árvores sugerem-me que vou em direcção ao inferno, é tudo tão sombrio e assustador, ainda bem que os ramos não ganham vida pois parecem estar mortinhos por me atacarem, siga para o abismo...
Estou definitivamente a cair para o lado, já não tenho forças, só quero dormir… Há luz ali ao fundo… Uma taberna… Entro cambaleando…
Uma senhora mal cheirosa de bata cinzenta com um padrão muito esbatido e irreconhecível dirige-se a mim, agarra-me, abraça-me e sei lá que mais. Embora tentasse ser delicada, senta-me à bruta numa cadeira que mal aguenta com o meu peso:
- Ai que coitado, está moribundo… Bebe, bebe que está quente, vou já buscar uma toalha, ai meu Deus, que se passou contigo… Este mundo, meu Deus, que se passou…
Interrompo-a sem dó, deixo a cólera apoderar-se de mim e…
- Dê-me um donut!…
- Mas, mas… Mas que diz, um donut, mas…?
- Dê-me só a porra dum donut… Um com buraco, quero a merda dum donut com um buraco e quero enfiar-me lá dentro por tempo indeterminado, já e agora!
Ouço madeira ranger e a cadeira acompanha-me enquanto me estatelo no chão… Mas porque raio… Porquê?




Why does it always rain on me?


4 comentários:

M disse...

Não vai chover para sempre, até porque dão subida de temperatura e melhoria das condições atmosféricas! :p

Rita disse...

Quero um donut???? Para me enfiar lá dentro??? Não seria melhor uma bóia??
Jokas

Broken Horn(y) disse...

Claro que nao ...o donut é melhor...mais doce, mais humido, mais aconchegante...e tb mais pegajoso!!!!
Bensa assim..se ele se cansar de estar dentro do donut pode comer!!

Man, gostei da leitura...rapida!!!
Grande abraco

M disse...

Pah, eu não caio redonda. Não, que não sou assim tão balofa!
Na verdade eu sou pró na arte do espetar-me ao comprido...