"Nós combatemos a nossa superficialidade com a nossa mesquinhez, para tentarmos chegar aos outros sem esperanças utópicas, sem uma carga de preconceitos ou espectativas ou de arrogância, o mais desarmados possível, sem canhões, sem metralhadoras, sem armaduras de aço de dez centímetros de espessura; aproximamo-nos deles de peito aberto, na ponta dos dez dedos dos pés, em vez de estraçalhar tudo com as nossas pás de caterpillar, aceitamo-los de mente aberta, como iguais, de homem para homem, como se costuma dizer, e, contudo, nunca os percebemos, percebemos tudo ao contrário. Mais vale ter um cérebro de tanque de guerra. Percebemos tudo ao contrário, antes mesmo de estarmos com eles, no momento em que antecipamos o nosso encontro com eles; percebemos tudo ao contrário quando estamos com eles e, depois, vamos para casa e contamos a outros o nosso encontro e continuamos a perceber tudo ao contrário. Como, com eles, acontece a mesma coisa em relação a nós, na realidade tudo é uma ilusão sem qualquer percepção, uma espantosa farsa de incompreensão. E, contudo, que fazer com esta coisa terrivelmente significativa que são os outros, que é esvaziada do significado que pensamos ter e que, afinal, adquire um significado lúdico: estaremos todos tão mal preparados para conseguirmos ver as acções íntimas e os objectivos secretos de cada um de nós? Será que devemos todos fecharmo-nos e mantermo-nos enclausurados como fazem os escritores solitários, numa cela à prova de som, evocando as pessoas através de palavras e, depois, afirmar que essas evocações estão mais próximas da realidade do que as pessoas reais que destroçamos com a nossa ignorância, dia após dia? Mantém-se o facto de que o compreender as pessoas não tem nada a ver com vida. O não as compreender é que é a vida, não compreender as pessoas, não as compreender, não as compreender, e depois, depois de muito repensar, voltar a não compreender. É assim que sabemos que estamos vivos: não compreendemos. Talvez o melhor fosse não ligar ao facto de nos enganarmos ou não sobre as pessoas e deixar andar. Se conseguirem fazer isso - estão com sorte"
in Pastoral Americana, Philip Roth
É por estas razões que jamais escreverei nada na vida a não ser em blogs de ocasião: há sempre alguém que consegue passar para o papel de uma qualquer forma magistralmente clarividente tudo aquilo que nos roi as entranhas.
5 comentários:
Para que matar o tico e o teco ate a exaustao a pensar como dizer o que queremos de facto dizer e ser compreendido, quando habitualmete ja alguem o disse de uma forma que jamais pensariamos ser a mais correcta mas que no entanto nos vemos espelhados em cada letras ?!
Bjs
Para que matar o tico e o teco ate a exaustao a pensar como dizer o que queremos de facto dizer e ser compreendido, quando habitualmete ja alguem o disse de uma forma que jamais pensariamos ser a mais correcta mas que no entanto nos vemos espelhados em cada letras ?!
Bjs
bem, então secalhar é melhor mesmo largar o blog também... ainda posso ser acusado de plágio.
Há pessoas que têm o dom da palavra quer escrita quer falada...
Jokas
hum... até podem ser eloquentes... mas ninguém consegue expressar 100% os nossos pensamentos e sentimentos para além de nós próprios...
O que não obsta a que o texto seja brilhante!
:o)))***
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