Há medida que o tempo vai passando vamo-nos finalmente apercebendo do que é ser-se adulto, que esta viagem que empreendemos por cá nem sempre é tão agradável, nem tão esfuziante como tinhamos perspectivado quando eramos crianças. Os papás não só mentem e não sabem tudo, como têm sexo, são fracos, cheios de defeitos e cada vez mais frágeis.E nós como filhos deles, por muitas certezas que possamos ter daquilo que fariamos se estivessemos naquela posição, amadurecemos a nossa personalidade e a nossa visão da vida com as bases que recebemos em casa, quer adoptando o mesmo padrão, quer reagindo adversamente e fazendo radicalmente o oposto.
E crescer é, sem dúvida, questionar e problematizar aquilo que nos rodeia, o imbróglio reside no preciso ponto em que tudo é questionado e problematizado e ficamos sem certezas, no limbo.
Crescer, no fundo, é perceber que tudo aquilo que desejámos de melhor para nós dificilmente terá lugar: o mundo não vai melhorar, não teremos qualquer lugar no decurso da história, nascemos para ocupar espaço, talvez deixar um outro ser como nós para a posteridade e depois morrer.
E aqueles que mais realistas sonhavam com chegar docemente a velhinhos, na companhia do respectivo, a molhar bolhachinhas no chá doce porque os dentes são fracos, ou a rabujar um com o outro, só para haver movimento e ânimo, cedo se apercebem que na nossa realidade, a dos dias que correm, não temos lugar no futuro, é desejo dos econometristas deste país estoirar connosco antes de chegar à idade de receber a contrapartida das nossas vidas inteiras de trabalho.
And they say jump and you say how high, até que a juventude se esvanece e deixamos de ter forças sequer para nos arrastarmos no fim-de-semana. E morremos todos alegremente aos cinquenta anos, fruto de uma vida stressante, exactamente naquele ponto em que deixamos de ser jovens.
E recorremos a nutricionistas, tornamo-nos fãs da comida saudável, para nos enganarmos a nós próprios, para assim esconder com uma peneira o que não pode ser escondido nem o corpo esquece: as verdadeiras mudanças não recaiem apenas na alimentação, nem em deixar de fumar, mas sim em recusar horas extraordinárias, que de qualquer modo nunca serão pagas; não passar mais um fim-de-semana fechado no escritório, com os olhos na eventual promoção que tantas vezes é um mero engodo de patrões desonestos que têm a faca e o bolo na mão... e trabalhar, trabalhar imenso para passar férias no estrangeiro, ter o carro da marca x, o apartamento perto do trabalho e a casa de campo que é usada apenas uma vez por ano, na única semana de férias que conseguem efectivamente tirar.
E trabalham porque acham que tudo vai ser assim, para sempre, "porque eu sou forte, eu consigo, eu sou capaz". Mas não são, e morrem que nem tordos, de ataque fulminante. E deixam pais velhinhos, pesarosos, mas que nunca passaram por aquilo que temos de passar, nem imaginam o que é sobreviver nos dias de hoje.