Coisas que fascinam

Lembras-te daquela vez que fomos fazer um cross de bicicleta pelos pinhais? Tivemos tanto azar que ficámos logo com um pneu furado, e trouxemos, cabisbaixas, a bicicleta a reboque, monte acima! Na altura não havia incêndios, nem tarados, agarravámos nas bicicletas e saíamos uma tarde inteira. Deixávamos um bilhete -"Mãe, fomos dar um volta!", e era o suficiente. O dia tardava a acabar, e depois de uma tarde inteira juntas, ainda tinhamos assunto para mais uma hora à entrada de casa... e passada meia hora, o telefone tocava e falávamos... sobre tantas coisas!

E quando tinhamos ensaios à noite? Saíamos 1 hora antes e íamos à caroça! Saltávamos vedações, aos risinhos, com medo de sermos apanhadas, e no caminho íamos tocando às campainhas e fugindo... Tão típico! (eram sempre os míudos do bairro que ficavam com as culpas!)

No Verão, juntávamo-nos em grandes grupos, de bicicleta, a caminho da Praia, e fazíamos competições para ver quem conseguia subir as Regalheiras sem parar... Era giro, íamos todas de mini calções curtos, t-shirt largueirona e sapatilhas, lembras-te?

Passávamos a tarde toda a jogar volley com os salva-vidas, cartas com os salva-vidas, que eram giros, mesmo giros, e com quem quer que se quisesse juntar. Era o máximo! Ninguém ficava à margem.

Não sei bem quando tudo isto deixou de acontecer: as bicicletas já não têm areia nas correntes nem salitre nas pastilhas dos travões, estão penduradas na garagem, a apanhar pó.

Também já não falamos horas ao telefone... estamos na era das comunicações e detestamos telemóveis.

Já não fazemos crepes ao lanche, nem merendamos pipocas de urze com batidos de fruta, cheios de espuma.

Agora quando estamos juntas, pouco falamos do presente, nada do futuro e muito, longuíssimas conversas sobre o passado. O presente é cinzento, o futuro nebuloso, e as melhores cores estão gravadas dentro de nós, à distância de um "lembras-te???".

Eu lembro-me.